Roger Corman, o
velhinho americano lendário que por quase 60 anos produziu, dirigiu ou
distribuiu mais de 400 filmes de orçamento irrisório, sempre esteve antenado aos
lançamentos cinematográficos para tirar uma casquinha. Uma de suas táticas conhecidas
é lançar filmes de orçamento ridículo que são pouco mais do que plágios dos chamados
arrasa-quarteirões logo depois do lançamento das milionárias produções de
Hollywood. Exemplos? Após “Tubarão” ou “Parque dos Dinossauros” do Steven
Spielberg, logo vieram “Piranha” e “Carnossauro”. Imediatamente após “Guerra
nas Estrelas”, sai uma produção sua no capricho, o “Mercenários das Galáxias”!
Se Francis Ford Coppola me sai com “Brácula de Bram Stoker”, Roger Corman ataca
com “Dracula Rising” sem pestanejar! Se a moda eram os “Gremlins” do Joe Dante,
o velhinho aparecia com os “Munchies”!
Trailer do tosco "Munchies", de 1987:
O vovô trash
sabe o que faz: mesmo que muitas de suas produções a partir do final dos anos
setenta fossem cópias descaradas dos chamados blockbusters que se iniciaram
naquele momento, é interessante notar que a paixão adolescente por esses filmes
milionários é idêntica à de filmes B mais antigos. “Tubarão” e “Gremlins” nada
mais são do que repaginações da fórmula manjadíssima dos filmes de monstros
assassinos dos anos 50 e 60 na febre do “Atomic Horror” nos drive-ins, muitos
dirigidos por você sabe quem, como “Attack of the Crab Monsters” e “A Besta de
Um Milhão de Olhos”! Se Coppola foi aplaudido pelo talento, criatividade e a
atmosfera onírica aterrorizante de “Drácula”, os filmes dirigidos por Roger
Corman do chamado “Ciclo da Era Poe”, como “A Orgia da Morte”, “Túmulo Sinistro”
e o “Solar Maldito” são igualmente reverenciados. Sem mencionar que Joe Dante,
Francis Ford Coppola e mais um montão de outros profissionais de sucesso de
Hollywood trabalharam como estagiários do ancião matreiro, bem antes da fama.
Pôster de "Orgia da Morte" (64) com Vincent Price
A exumação de
hoje é uma pérola da cara de pau do modus operandi do vovô Corman. Nos anos 80
tivemos a coqueluche dos filmes de capa e espada, regados a violência e nudez graças
ao sucesso do Mr. Universo Schwarza, no papel de uma torre gigantesca de
músculos da destruição, o flagelo dos cultos do mal que nem precisava falar inglês
direito. Bastava ao brucutu ariano empunhar nordicamente sua espada invencível para
a decapitação do maligno vilão do filme, o ator negro James Earl Jones, para o
sucesso do filme estar garantido entre a juventude americana e, a reboque, pelo resto do mundo.
Dois anos
depois do estrondoso sucesso do cimério ariano, Roger Corman ataca com o sublime
do trash: “O Guerreiro e a Espada”, filmado de qualquer jeito na Argentina e
com orçamento pífio! Se em “Conan” surge na tela a inesquecível algoz serpente
do mal, em “O Guerreiro e a Espada” aparece, tal qual um Muppet Baby vagabundo,
o lagarto de estimação do lorde obeso mórbido! Se no primeiro filme os bárbaros
“heavy metal” se destacam (principalmente o do martelo gigante que destrói
pilastras com a mesma facilidade de uma britadeira), no segundo temos os gêmeos
retardados de nariz postiço!
Poster de "O Guerreiro e a Espada" (84)
Finalmente, se
o protagonista da produção de 82 é o lendário brucutu austríaco, o Governator
que todos amam (e devem temer, porque os planos de conquista planetária estão
em curso – hoje, a Califórnia; amanhã, o mundo!!!) com seus quase dois metros e
mais de cento e dez quilos de pura grosseria, a estrela escolhida por Roger
Corman é David Carradine, o filé de borboleta e eterno garoto-problema, quase
cinquentão na época! Sim, entre passagens pela prisão, sexo desvairado, kung fu
televisivo e roquenrrou enfurecido, David Carradine vez ou outra atuava nas malfadadas
películas da produtora do bom velhinho (isso não impediu, anos depois, mesmo após
a ressurreição da sua carreira graças a Tarantino, que Carradine falecesse
devido a um malogrado procedimento masturbatório). Assistir Carradine de sunga,
capa e bota empunhando uma espada mais pesada que ele e distribuindo sopapos de
coreografia horrenda e pontapés na altura do joelho dos vilões é uma
experiência quintessencialmente trash!
A história fala
sobre o conflito num planeta distante entre duas facções inimigas disputando o
poder numa cidade de cenário tosco de papelão e o controle do poço d’água no
meio dela. Se aproveitando dessa confusão está o oportunista David Carradine,
que está pronto a vender sua força mercenária ao lado que pagar melhor. O filme é uma cópia descarada (jura?) de “Yojimbo”,
filmaço de Akira Kurosawa (que também foi plagiado em “Por um Punhado de
Dólares” do Sergio Leone), sem os elementos de fantasia e sem a necessária putaria.
Se em “Conan o Bárbaro” temos violência de sobra e orgia de escravas brancas,
em “O Guerreiro e a Espada” temos tudo isso e muito mais! Além de espadas mágicas vagabundas, paredes de
cavernas de papelão pintado e do ridículo
monstro aranha de espuma, as mulheres que atuaram nesse filme simplesmente
parecem desconhecer o termo sutiã, é um festival de topless pra fã de
pornochanchada nenhum botar defeito! A atriz principal, a tal da feiticeira
Naja, está de peito de fora o filme inteiro!
Abertura de "O Guerreiro e a Espada" (1984)
E, como de
praxe, o melhor deixo para o final: se os caríssimos e nostálgicos espectadores
da Tela Quente consideram bizarra a quenga Mary, dotada de três tetas em “O
Vingador do Futuro” do Paul Verhoeven, o que dizer da quenga dançarina exótica
com um ferrão venenoso que sai do umbigo... de quatro tetas? É isso mesmo, esse
filme é um espetáculo de glândulas mamárias em abundância! Vivas para Roger
Corman!
Yeah baby!!