quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Livros não pifam!


Adquiri recentemente um livro muito bom - e, desde já, importantíssimo - chamado "A Questão dos Livros", do historiador dos livros americano Robert Darnton. Ele escreve sobre coisas fundamentais a respeito desses "tijolinhos de conhecimento" e a transmissão e preservação de informação nos dias de hoje cada vez mais inseridos no mundo virtual. Ele chega a dizer, sem brincadeira, que a explosão da comunicação eletrônica é coisa tão revolucionária quanto a invenção há mais de quinhentos anos da imprensa com tipos móveis do Gutenberg.
Ainda não acabei de ler, mas tem muita coisa interessante ali. O Google, aquele conhecido e colossal site de buscas, fez um acordo há pouco mais de cinco anos atrás com as maiores bibliotecas americanas (a de Harvard, por exemplo, cuida de seu acervo desde 1638) para digitalizar os livros impressos e disponibilizá-los no ciberespaço. Isso causou um problemão judicial danado porque o Google pretende cobrar planos de assinaturas para os leitores terem acesso ao conteúdo do banco digital de dados protegido por direitos autorais (lá nos States o copyright dura 70 anos, ou seja, uma penca de livros do século XX ainda não é de domínio público). Para se ter uma idéia, passadas as pendengas na Justiça, o site de buscas, se bem sucedido, terá controle invulnerável à competição, por lei, de toda a digitalização de livros protegidos por copyright nos EUA!
Outro ponto levantado é uma característica inerente às tecnologias de mídia eletrônica e suas respectivas empresas: tudo fica obsoleto na velocidade da luz! Essas coisas entram em declínio muito rápido no âmbito da internet. Apesar do poderio do Google, não é de todo impossível o seu desaparecimento, ou absorção, por uma nova forma de tecnologia.
E a preservação do acervo digital? Alguém se lembra dos disquetes, por exemplo? Para ilustrar essa questão, imaginem se o modo de armazenamento escolhido pelo Google fossem as bibliotecas guardadas em disquetes! E se com esses livros todos digitalizados na rede alguém tem a brilhante idéia de destruir os físicos, do mundo de verdade, como é que fica se o acervo digital ficar inacessível, ou simplesmente sumir, "der pau"?
Documentos podem ser perdidos no ciberespaço por conta da obsolescência da mídia em que estão registrados. Todos os textos "nascidos digitais" entram automaticamente no rol das espécies em risco de extinção (incluo, aqui, esse meu próprio espaço).
Caríssimos, entendo tanto de computação quanto um ornitorrinco estrábico, mas sei que empresas de internet vem e vão. Bibliotecas existem há muitos séculos e os livros, em forma de códice, existem há milênios. A obsessão voraz por desenvolver freneticamente novas mídias eletrônicas acabou inibindo os esforços para preservar as antigas. Pode parecer antiquado - e é, mas o melhor sistema de preservação de conhecimento já inventado pelo homem é o mundano livro impresso.
O autor, Robert Darnton, percebe que nossa era está sendo dominada por uma enxurrada de inovações e traquitanas tecnológicas - algumas maneiríssimas, mas existe uma relação de dependência dos homens com as máquinas muito difícil de se prever o desfecho. Vejam o caso da "geração digital", onde muita criança sequer encostou num lápis e outras são incapazes de escrever em letra cursiva.
Pois bem, não acabei de ler o texto todo (em papel!), mas já adianto minha opinião sobre o possível futuro das obras impressas em relação a esses novos parentes digitais. Ela está escrita no título deste post!

2 comentários:

  1. Força para o desmatamento! Yipee kai yay motherfucker!!

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  2. Viva o livro! (Será que fabricar um livro destrói mais o meio-ambiente que fabricar, sei lá,as embalagens para todas as traquitanas tecnológicas que vêm acompanhando um computador - sem falar na própria fabricação de todas essas bugigangas)?

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