Antes que o ano - ou o mundo! - acabe, exumemos, irmãos, dois filmes surrealistas de insanos casais apaixonados e uma banda muito louca (literalmente!), porque o amor é lindo e psicótico!
A primeira pérola é o tailandês "Mah Nakorn" (Citizen Dog, de 2004), sobre os encontros e desencontros da maluca por limpeza e guardiã das garrafas de plástico Jin e sua metade da laranja, o enlatador de sardinhas Pod, cujo dedo decepado está recosturado na mão de um amigo de trabalho da fábrica! Essa linda história de amor ainda vem com moto-taxista zumbi graças à chuva de capacetes, garotinha com seu ursinho - ambos fumantes -, um lambedor frenético e a encarnação da avó do Pod como lagartixa tosca!
Trailer de "'Mah Nakorn"
O segundo filme 'Loucos, muito loucos" (1991) tem Ted Raimi paranóico e trancado em seu apartamento há seis meses. Ele alucina com aranhas no cérebro, furadeiras, cantores de rap e um médico em particular (interpretado pelo mestre Bruce Campbell!). Tendo apenas o papel alumínio como defesa contra suas fobias, acaba conhecendo sua pombinha (uma maluquete expulsa de casa pelo namorado) por causa de uma ligação cruzada num orelhão!
Trailer de "Loucos Muito Loucos"
Pra embalar essa doideira toda, fiquemos com os autores de "A Balada do Louco", em apresentação insanamente espetacular!
Caríssimos, os tenebrosos papais noéis de shopping entulhados de neve de isopor e o escroto e hipócrita amigo oculto de escritório ficaram pra trás!
Acabou o Natal finalmente! Agora é pra valer, essa é a semana decisiva, é o aquecimento fundamental pra verdadeira festa de fim de ano, onde beberemos - sempre! - seja pela alegria, seja pra afogar tristezas, pra traçar metas, enfim, qualquer que seja o motivo, a primeira ressaca de 2012 (e de 2013, 2014...) deve ser, obrigatoriamente, monumental - e inesquecível!
De preferência, de frente pro mar... mas quem for do Rio, cuidado: a festa religiosa pras divindades marinhas em Copacabana foi quase expulsa pelos mega eventos e techno-shows modernosos, e a areia, espaço público por excelência, está loteada por cadeias de hotéis que cobram centenas de reais aos sujeitos que se prestam a ir pra praia no reveillon - mas odeiam multidão!!!
Após um desabafo alcóolico, bebadamente lhes convido a iniciar a semana (na terça, que os trabalhos cachaçais já começaram!) com a mineira Clara Nunes, invocando o seu amor ao mar!
"Conto de Areia" (Clara Nunes - "Alvorecer", 1974)
Depois de Tony Manero e Arthur o Milionário à moda da Índia, preparem-se pra uma interpretação de 007 (aquele famoso espião pegador cheio das tecnologias contra vilões sinistros) mil vezes pior que a do Timothy Dalton na exumação de mais uma tosqueira do cinema indiano! Pois o canastrão britânico entrega pra Mithun Chakraborty - o ator que protagonizou "Disco Dancer", o plágio de "Os Embalos de Sábado à Noite"! - o título de pior James Bond da história! Mas se bem que o herói dessa fita bollywood de ação, espionagem e - muita, mas muita mesmo - cantoria não atende pelo codinome 007, e sim G-9 (Golimar - 9?)!
É até meio complicado a gente falar em plágio com essas produções bizarras, porque o produto final não fica nem um pouco parecido com os filmes do Ocidente, graças à visão bem particular dos realizadores indianos sobre o mundo. Pois saibam que no universo bollywood, todo mundo canta e dança freneticamente entre uma cena e outra de trama! O plágio fica só no nome!
O filme exumado se chama "Suraksha" (79) e é estrelado pelo mesmo ator que fez o John Travolta de araque do tosquíssimo "Disco Dancer", pauta do Podtrash dessa semana (http://td1p.com/podtrash-67-cante-e-conquiste-disco-dancer/)! E pasmem: esse 007 (ou G-9!) indiano é comedor, cínico e portador dos equipamentos de última geração que só o agente ídolo das multidões de Bombaim pode ter! O carro modernoso dele vem com a solução perfeita pra casos de veículo desgovernado despencando abismo abaixo: o pára-quedas mais zero orçamento do cinema!
Outra tecnologia do filme talvez seja a maior invenção proporcionada pelos cientistas da agência de espionagem: o cigarro-sonífero pós coito! Após passar o ferro na bondgirl hindu, nosso intrépido herói garante que a gostosa porém tagarela moça durma logo após uma tragada só! E assim G-9 está livre para esbofetear capangas e cantar e dançar freneticamente!
Pra finalizar, o vilão do filme, o Dr. Shiva, é qualquer negócio de estranho: imaginem um misto de Blofeld com Scaramanga e dr. No... de barba e tapa olho!!! Que clona as pessoas e comanda um exército de homens-robô!!!
Se os caríssimos leitores tiverem paciência - e estômago! - pra mais de duas horas de filme bollywood, essa é a pedida pra um Natal inesquecivelmente trash!!!
Minha gente, olha como é o covil do vilão megalomaníaco (o herói é o de blazer branco e cachecol verde!):
Fiquem com a música - premiada! - do compositor Bappi Lahiri para "Sharaabi" (84) - ou algo como "O Bêbado" -, mais um filme-plágio indiano, com música do nosso querido e vasto Rei da Música Disco hindu sobre um certo playboy magnata alcóolatra e baixinho: "Arthur, o Milionário" Sim, é sério!
Abaixo, uma construtiva música sobre o alcoolismo!
Jahan Chaar Yaar Mil Jaayen Wahin Raat Ho Gulzar ("Shaarabi", 1984)
Um brinde ao Dudley Moore do Mundo Bizarro de Bollywood!
Da tríade dos grandes mestres do cinema de horror italiano - Dario Argento, Mario Bava e Lucio Fulci -, o terceiro é conhecido por seus filmes recheados de gore escabroso e violência. Obras como "Terror nas Trevas" (81), "Zombie Flesh Eaters" (79) e "The New York Ripper" (82) estão banhadas em sangue e tripas pra todo lado!
Mas não vamos rotular mestre Fulci como o diretor do gore apenas, porque ele foi muito bem sucedido no quesito suspense de mistério - o tal do "giallo". Temos de exemplo suspenses excelentes como "Mulher no Corpo de Lagartixa" de 1971 (sim! O título é esse!), "O Estranho Segredo do Bosque dos Sonhos" (72) e, claro, a obscura exumação de hoje, "Sette note in nero", de 77, com o seu terrível título entrega-trama em português, coisa que nós brazucas nos especializamos! - "Premonição"!
Nesse filme Lucio Fulci mostra que é muito competente no quesito suspense, ele não depende só da violência desenfreada pra criar um climão assustador. Aqui não tem quase nada de sangue, apenas a atmosfera aterrorizante por causa da trilha sonora, do trabalho com a câmera e a atuação bacana dos protagonistas. O trabalho da bela atriz principal é bem maneiro. Ela é Jennifer O'Neill, carioca de nascença filha de europeus - e foi casada nove vezes!
Na trama, nós somos apresentados a uma decoradora paranormal recém casada com um playboy italiano. Ela tem visões estranhas que vão se repetindo ao longo do filme, como num quebra-cabeças pro espectador construir durante a projeção. Em sua primeira visão ela descobre o esqueleto de uma antiga namorada do seu marido emparedado na mansão! Como suspeito principal, o maridão vai em cana, e nossa heroína precisa investigar esse mistério com a ajuda de um intrépido parapsicólogo!
Trecho de "Premonição"
Dois detalhes maneiros: no primeiro, a cena de abertura onde nossa heróína ainda criança presencia o suicídio da mãe se atirando do penhasco a quilômetros de distãncia é muito parecida com a cena final de "O Estranho Segredo do Bosque dos Sonhos", onde um personagem cai no abismo e vai destruindo a cara - só a cara! - pelo precipício! O segundo detalhe é que a musiquinha do relógio que se transforma na trilha sonora de "Premonição" vai aparecer em "Kill Bill vol.1", como tema de O Ren Ishii! Viva Tarantino e suas referências!
Por incrível que possa parecer, rolou uma história nos anos 60 - no auge da popularidade dos Beatles no mundo todo - de que John, Paul, George e Ringo iriam gravar "Asa Branca", do nosso querido rei do baião, Luiz Gonzaga, pro próximo disco deles!
O empresário Carlos Imperial até dizia que a melodia de cítaras de "Inner Light", composição de George Harrison pro disco "Lady Madonna" de 1968, tinha a mesma pegada do início de "Asa Branca"! E um porrilhão de gente acreditou!
Ouçam a canção dos Beatles aqui embaixo:
Inner Light ("Lady Madonna", 1968)
Tudo isso era apenas boato! As vendas dos discos de Seu Lua estavam caindo. Aliás, as vendas do disco de tudo quanto era artista dos anos 60 no mundo inteiro declinavam por causa da beatlemania, ora! - se bem que no caso de Luiz Gonzaga, a ascensão da Jovem Guarda, os reis do iê-iê-iê, também tiveram a sua parte na queda dos lucros do rei do baião no Sudeste do Brasil. Mas essa singela invenção recuperou a popularidade do autor de "Asa Branca" e ele continuou sua carreira nos rádios e na tevê quando muita gente boa virou carta fora do baralho nessa época. É aquela velha história do dito popular: se não se pode vencê-los... pegue carona no submarino amarelo!
Fiquemos com a apresentação pra tevê onde Luiz Gonzaga interpreta sua clássica composição em conjunto com Humberto Teixeira e está acompanhado de muita gente boa, de Clara Nunes e João Bosco até ao Caçulinha do Faustão!
"Asa Branca" (em apresentação pro "Fantástico" da TV Globo, em 78)
No "The Dark One Podtrash" vampiresco dessa semana (http://td1p.com/podtrash-65-anoiteceu-fudeu-vampiros-de-john-carpenter/) falávamos da quantidade relativamente grande de filmes de Hollywood sobre vampiros a partir do final da década de 80 e década de 90 adentro: "Garotos Perdidos", "Drácula de Bram Stoker", "Entrevista com o Vampiro", "Vampiro no Brooklin", "Um Drinque no Inferno", "Blade" e o próprio "Vampiros", do John Carpenter.
Mas vamos falar de um filme bacana e meio obscuro com uma visão diferente dos chupadores de sangue hoje? É o mexicano "Cronos" (1993) do excelente Guillermo del Toro! Aqui o argentino veterano Federico Luppi encarna "Jesus Gris", um vovô dono de antiquário que encontra a fórmula da imortalidade descoberta por um alquimista de centenas de anos atrás, o tal do artefato "Cronos". Trata-se de uma traquitana semelhante a um escaravelho com um inseto dentro que pica e chupa (eita!) o portador tal qual um vampiro. O portador, em troca, passa a depender da geringonça, empalidece, fica vulnerável à luz do sol, e, claro, desenvolve uma sede de sangue terrível!
Caríssimo leitor, pense numa sede de sangue extrema. Depois que Jesus vira vampiro (!), tem uma cena em que ele lambe gotas de escorrimento sanguíneo nasal de um desconhecido no chão do banheiro masculino!!! Horror eterno!!!
Contudo, esse filme inverte aquela idéia do vampiro ser uma criatura maligna e demoníaca que estamos acostumados a assistir em outras obras. Parece que a imortalidade é presente divino garantida pelo inseto!
O personagem que é tio do Angel (esse Angel é vivido pelo talentoso feioso Ron Perlman, em sua primeira parceria com Guillermo del Toro) explica ser possível o inseto ficar vivo dentro do "Cronos" por centenas de anos porque aranhas e formigas conseguem ficar presas numa pedra por muitos anos e saírem vivas - os insetos pra esse doido são as criaturas favoritas de Deus!
Outros elementos cristãos além dos nomes dos personagens Jesus e Angel: o Cronos estava dentro de uma imagem de anjo do paoco, e o tio maluco fala que Cristo caminhava sobre as águas do mesmo modo que um mosquito!! Sério!! Tiozão doido por tiozão doido, fiquemos com um não fanático religioso: como esquecer do velhinho de "Parque dos Dinossauros"? Só que esse é um portador de outro tipo de fanatismo: ele arrumou um mosquito chupador de sangue pré-histórico bem conservado e resolveu recriar lagartos gigantes pra montar o parque de diversões mais esdrúxulo do mundo graças às maravilhas da ciência em detrimento da religião!
Fica a dica desse filme de vampiros bem inusitado, mas com atuações muito boas do elenco. Especialmente de Ron Perlman, que antes de fazer o Angel vilanesco em "Cronos" viveu um herege disforme em "O Nome da Rosa" (o inesquecível Salvattore - "Penitenziagitte!!") e depois virou um demônio super-herói sob a batuta de del Toro em "Hellboy"! Haja versatilidade ecumênica!
Vamos começar a semana de forma sedutoramente sanguinolenta, caríssimos!
Diretamente da ensolarada ilha onde mora a maravilhosa e sedenta chupadora de sangue Nadine, fiquemos com a trilha sonora surreal-sexy de "Vampyros Lesbos" (71), filme pornô-light e cult do genial diretor-pornógrafo trash octagenário, Jess Franco!!!
Vampiras não podem pegar sol? Te lasque! Elas estão de topless!!!
"The Lions and the Cucumber" (Manfred Hübler & Sigi Shchwab, ou "The Vampire's Sound Incorporation", álbum "Sexadelic Dance Party", 1971)
Pois muito bem, hoje vamos falar de "Undefeatable" ("O Desafio Final" por aqui), filme de 1993 lá de Hong Kong!
O diretor do troço? O inacreditável Godfrey Ho - pra poder fazer o filme de hoje ele trocou o Ho por Hall; sua reputação andava meio abalada, pois costumava pegar aqueles restos de cenas de filmes velhos de kung fu bisonho que ninguém mais queria e juntava com cenas de atores filmados dez anos depois pra fazer um filme novo!
A mocinha da história? Cynthia Rothrock! É, estamos falando da campeã mundial de caratê que inspirou a criação da personagem de videogame Sonia Blade do Mortal Kombat! Aqui em "Undefeatable" ela já era trintona, mas paga de adolescente carateca marota. Ela participa do Clube da Luta de araque da trama estilo Street Fighter pra pagar a escola da irmãzinha mais nova.
O vilão bisonho? Don Niam, o portador do mullet mais horrendo dos anos noventa! Nesse filme ele também participa do Clube da Luta ilegal! Só que depois de um dia duro de trabalho ele costuma estuprar a patroa em casa, até que ela se cansa e foge. Só que quando isso acontece ele pira, passa spray vermelho no cabelo e sai pelo mundo matando toda mulher parecida com a ex! Ele as estupra, amarra com corrente e arranca e guarda os olhos delas! O maneiro é que todas as vítimas ou são faixa preta de caratê ou vêm acompanhadas de um chinês campeão de kung fu!
Trecho da luta da mocinha e da psiquiatra (!) contra o vilão
Quando nosso querido assassino serial carateca e doente mental confunde a irmãzinha da Sonia Blade com a sua ex-mulher e acaba com ela, nossa heroína, juntamente com um policial canastrão, parte em busca de vingança! E tome cenas de ação toscas da mocinha em cima de latões, gangue com coreografia saída de "Amor Sublime Amor", atuação inesquecível do maluco homicida (destaque pra cena dele atacando a sua psiquiatra - que também é carateca!!) e, claro, a épica batalha final. Como se derrota um ser insano de pura maldade? Palavras não fazem jus à cena. Assistam (por sua conta e risco, caríssimos!)
Batalha final de "Undefeatable"
Depois dessa, fiquem de olho nesse filme (é, estou impagável!)
Vejam bem, só me resta dizer pra não perderem de vista (Rá!) essa pérola do cinema tosco de ação!
Essa é uma das primeiras frases da obra maldita exumada de hoje que fracassou nas bilheteria na época do seu lançamento em 1960, "Jigoku" ("Inferno", em português), filmaço do diretor de terror Nobuo Nakagawa, considerado o primeiro filme gore da terra do sol nascente.
Mas antes do final sangrento e sádico no Inferno propriamente dito, a história repleta de remorso, vingança e angústia se passa no inferno terrestre - a vida pode ser tão terrível quanto o temido além, parece ser essa a mensagem do diretor -, onde o protagonista é cúmplice no atropelamento e fuga de um bandido bêbado. A partir desse momento, a vida do pecador Shiro - e de todas as pessoas que ele conhece - passa a ser repleta de desgraça e morte.
O elenco todo sofre horrores em vida na primeira parte do filme: a mulher vingativa do bêbado atropelado escorrega da ponte, a namorada do Shiro sofre acidente fatal de carro, a mãe dele morre doente, a amante do pai cai da escada e parte o pescoço, o peixe estragado e o saquê envenenado servido na festa extermina o restante do elenco... Enfim, as ações moralmente condenáveis dos personagens vão culminar num festival de mortes sinistras!
E aí, vamos pra surreal segunda parte do longa... no inferno! Os condenados sofrem em cenas de olhos perfurados, de afogamento no mar de pus, de pés pregados no chão repleto de estacas, de gente enterrada de cabeça pra baixo. Os personagens principais ficam com o melhor: o pai adúltero é esfolado vivo enquanto seus dentes são destruídos na base de porretes demoníacos, a cabeça da amante é separada do corpo - o que não a impede de continuar gritando! -, um outro deve passar sede pra sempre porque roubou um cantil d'água de um soldado sedento durante a guerra... É um festival dos horrores com muitos momentos sangrentos e sádicos, nesse filme impressionante de cinqüenta anos atrás.
Eu particularmente prefiro as cenas infernais dos filmes do Zé do Caixão (que vieram alguns anos depois de "Jigoku"), elas são melhores, mais aterradoras e perversas, mas fica aqui o reconhecimento ao mestre japonês do medo Nobuo Nakagawa, um dos grandes precursores do cinema nipônico de horror grotesco, bizarro e único de hoje em dia.
Vamos explodir tudo ao som de "Higher Ground", cover maneiro do "Red Hot Chilli Peppers" de 1989 pro funk sinistro do Estevinho Maravilha (nosso querido Stevie Wonder) de 1973!
100 explosões em 200 segundos (música "Higher Ground", Red Hot Chilli Peppers, álbum "Mother's Milk")
álbum "Innervisions" (1973)
Versão original de Stevie Wonder aqui embaixo no show (na íntegra!) na Alemanha de 1974. A "Higher Grounds" é a terceira:
Stevie Wonder ao vivo no "Musikladen/Beatclub" (1974)
O caríssimo leitor se recorda daquela frase marcante do filme "Campo dos Sonhos", estrelado por Kevin Costner, "se você construir, ele virá"? Pois é, no caso da exumação de hoje, é um pouco diferente: se você acreditar (mas com vontade!), ele retornará... dos mortos!
Preparem-se pra uma pérola britânica do começo dos anos 70 que mistura gangue de motoqueiros, anarquia, magia negra, sapos vodus, mortos vivos e um mordomo sinistro (claro, o que você esperava, trata-se de um filme inglês, é obrigação ter mordomo sinistro!). Pois desenterro orgulhosamente "Psychomania", obra que narra a história do líder da gangue de motoqueiros "Living Dead" que quer cometer suicídio com sua garota pra eles retornarem da tumba imortais!
Ele convence a mãe viúva, feiticeira demoníaca e com gosto pra decoração muito parecido com o da mulher dos gatos assassinada por Alex DeLarge com um consolo gigante em "Laranja Mecânica" a passar pelo ritual macabro em busca da vida eterna envolvendo sapos, talismãs e alucinações psicodélicas. Findo o ritual, o líder Tom toca o terror na cidade e se joga da ponte para a morte. A namorada dele consegue convencer a mãe bruxa a fazer um funeral típico dos motoqueiros (?): o defunto é enterrado com moto, jaqueta e o escambau enquanto um hippie canta e toca violão!
Como Tom se matou querendo retornar dos mortos do fundo do coração, ele revive triunfalmente, saindo de dentro da cova com o pé no acelerador! A cena é impressionante (claro que jamais será igual à cena em que McQuade, o Lobo Solitário, interpretado pelo onipofoda Chuck Norris, sai de dentro das entranhas da terra com uma picape... e bebendo cerveja!! - essa cena inesquecível está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=EQkyi1_l6po).
E nosso motoqueiro morto-vivo acaba convencendo o resto dos arruaceiros a se matar pra que eles honrem de fato o nome da gangue. É um festival de mortes bisonhas: tem motoqueiro embicando a moto na frente de caminhão, maluco se jogando de avião sem pára-quedas, doido se atirando no lago acorrentado... toda a gangue se suicida na esperança de renascer imortal, menos a namorada do protagonista. Quando todos retornam superpoderosos, ela finge que também é morta-viva e se une aos Zumbis Sem Destino para promover o caos!
O mais bizarro é o retorno deles como imortais superfodas e invulneráveis, e o que eles resolvem fazer primeiro? Invadir o mercadinho da esquina de motoca! Viva a rebeldia juvenil! Viva a destruição das latas de "spam" e caixas de ovos! Claro que esa idéia dos jovens contra as normas caretas fazia parte do espírito da época retratada na obra, mas esse filme é tosqueira à vera!
Recomendado para aqueles que sempre tiveram curiosidade em assistir um filme com motoqueiros zumbis anarquistas, vagando livres pelo mundo! E não esqueçam, a trilha sonora é tchap-tchura, bicho!
Trailer "Psychomania" (dirigido por Don Sharp, 1973)
Quem se lembra do M.C. Hammer (ou, em tradução tosca, o Mestre de Cerimônias Martelo!) e seu passo de dança inigualável mas muito imitado a partir dos anos 90?
O clipe tá aqui embaixo:
"U Can't Touch This" (MC Hammer, 1990)
Agora vamos falar do "Super Freak" (ou o super estranho, bizarro e medonho, em tradução tosca para o português) Rick James, um dos precursores tenebrosos daquilo que estava por vir tenebrosamente nos anos 80: a purpurina, o cabelo horrendo, o figurino exótico... enfim, a verdadeira personificação do mau gosto que foi aquela década maldita que todos nós amamos odiar!
Rufem os tambores, porque o clipe é tudo isso de estranho, mesmo!
"Super Freak" (Rick James, do álbum "Street Songs", 1980)
Salve João Cândido Felisberto, o mestre-sala dos mares!
Elis Regina canta "O Mestre-Sala dos Mares" (Aldir Blanc e João Bosco, em apresentação de 1974) com letra censurada pela ditadura militar - o título original era pra ser "O Almirante Negro", e onde escuta-se "feiticeiro" era pra ser "marinheiro"
Caríssimos, há um século e um ano atrás, a elite da marinha do Brasil era (é?) branca e, a marujada, quase toda negra. Os salários desses marinheiros eram baixíssimos, os alojamentos, horrorosos, a comida péssima e quase sempre podre, e os castigos corporais odiosamente prosseguiam. Era a herança abjeta da escravidão no seio das forças armadas da recém proclamada república brasileira.
O açoitamento humilhante de um marinheiro negro na frente de toda a tripulação pra manter a disciplina é a gota d'água: eclode a rebelião e os donos do chicote são mortos no navio Minas Gerais. Além dessa, mais cinco embarcações são tomadas de assalto e os canhões navais são apontados pra então capital do país, o Rio de Janeiro - alguns tiros chegam a ser disparados! - e João Candido, o líder do levante, exige o fim dos castigos corporais, perdão presidencial pelo motim e melhores condições de trabalho.
O povão, é claro, estava do lado do Mestre-Sala dos Mares, como bem diz o samba de Aldir Blanc e João Bosco! Houve até impressionante mobilização popular pra garantir mantimentos e abastecer os navios durante os cinco dias da Revolta da Chibata, que termina vitoriosa, mas não sem um preço: a anistia é ignorada e cerca de cem marujos são presos e deportados pra Amazônia para trabalhos forçados. Alguns são fuzilados e atirados ao mar, outras centenas - inclusive João Cândido - vão presos em porões, as "solitárias" com dezenas de detentos em cada uma. Sufocados por cal nesses túneis subterrânos da Ilha das Cobras e sem água, comida e higiene, quase todos morrem nesses porões da Ilha das Cobras em questão de dias.
O almirante negro sobrevive, é internado num hospício por dois anos, é solto, expulso da marinha, e vira vendedor de peixe no porto até morrer quase nonagenário e esquecido, em 1969. Mas seus feitos correram o mundo e escritores chegaram até a comparar o ocorrido no Rio de Janeiro em 1910 com a revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkim na Rússia, em 1905. E a comparação procede! Os oficiais aristocráticos da marinha russa banqueteavam-se com vinho, caviar e o escambau, enquanto os marinheiros resolvem recusar a lavagem de resto de beterraba, batata e carne bichada.
Quando estoura o motim e um rebelde é fuzilado, o povão russo (mulheres, operários, crianças) também vai pro porto, pro cais de Odessa, saudar seus heróis rebeldes (parecido com o que houve no Rio), prestar homenagens ao marinheiro falecido. Só que caíram numa armadilha fatal: os cossacos, mandados pelos oficiais do czar, massacram cerca de três mil pessoas nas escadarias do cais.
Tudo isso imortalizado na obra-prima do cinema mundial "O Encouraçado Potemkim" (1925), de Eisenstein.
Trecho da cena da matança nas escadarias de Odessa ("Encouraçado Potemkim", 1925, Serguei Eisenstein)
Um começo de semana psicodelicamente funk (se minha internet permitir), caríssimos!
Fiquemos todos de boca aberta com um dos melhores solos de guitarra (palmas pra Eddie Hazel) de todos os tempos, minha gente!
"Maggot Brain"(álbum de 1971 de Funkadelic)
É a união perfeita do funk, do soul, do rock e da psicodelia! Viva Funkadelic!!
"Maggot Brain" (Funkadelic, 1979)
E aqui embaixo, "I Got a Thing, You Got a Thing, Everybody's Got a Thing", outra música maneiríssima, do primeiro álbum ("Funkadelic,1970) dessa banda funk-rock fodaça!
álbum "Funkadelic", 1970
"I Got a Thing..." em apresentação funkadélica na tevê, em 1970!
Já que no "The Dark One Podtrash" dessa semana sobre o filme "O Último Dragão" (http://td1p.com/podtrash-62-quem-e-o-mestre/) mencionamos o zênite de todo mestre de kung fu farofa, que é atingir "The Glow" ("O Brilho?"), o que quer que isso seja, e ainda falamos de Peter Frampton e sua incrível participação no psicodélico "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - O Filme", de 1978 - sem Beatles!) no mesmo episódio (!), por que não a iniciarmos (bem, mais ou menos, né, porque hoje já é terça e já estou seriamente alcoolizado) com "Shine On", do Humble Pie, antiga banda do Frampton?
O Festival Tela Negra do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) segue incansável com sua mostra de filmes blaxploitation, evidenciando o comportamento da comunidade negra, como os modos de falar, de se vestir, de fortalecer a sua identidade e resistir à opressão da sociedade conservadora, branquela e careta dos States dos anos setenta.
Para continuar no clima "Black is Beautiful", seguem trechos de alguns filmes do festival, que vai só até dia 13 de novembro aqui no Rio e em São Paulo.
Música tema de Cleopatra Jones (1973), "Go Chase Cleo"
Trailer de "Coffy" (1973), estrelado por Pam Grier!
Isaac Hayes que fazia 30 anos na ocasião, cantando o tema de "Shaft" em apresentação no lendário show de 1972 no gueto de Los Angeles ("Wattstaxx", documentário do show lançado em 1973)
Eu discordo. É o povo mais estranho desse e de outros universos.
Querem a prova? Preparem-se para "Funky Forest: The First Contact", filme de 2005. Quem já viu há de concordar comigo, e quem não viu... cuidado! O seu cérebro pode virar geléia depois desse festival de insanidade!
Essa produção surrealista, que na verdade é um conjunto de cenas desconexas filmadas por três diretores, (entre eles o Katsuhito Iishi, o responsável por aquela seqüência anime muito maneira da infância da O-ren Ishii no Kill Bill vol.1!), tem de tudo, como um cara fantasiado de Pikachu erótico, uma tevê estilo "Videodrome" do Cronenberg, uma floresta musical e, sem brincadeira, o jogo de tênis mais bizarro do cinema!
E como imagens valem mais do que um zilhão de palavras, não falo mais nada... assistam por sua conta e risco os trechos a seguir:
Em algumas versões dessa lenda na Amazônia, a entidade adora oferendas de cachaça ou fumo e pra proteger a floresta contra as tempestades, ele testa todas as árvores batendo seu pênis ereto nelas! Trozoba anti-chuva! Bizarro!
Mas o mais grotesco é a representação de Curupira em "A Marvada Carne" (1985), filme onde o caipira quer bife bovino e a caipira quer casar! E o pai da caipira só vai matar o boi quando acontecer o casamento!
E enquanto o boi não é morto, o caipira passeia pelas matas e encontra o terrível Curupira, que vem deslizando pelo chão... Fazendo o "Moonwalk"! Que nem o Falecido Jackson!
Caipira e Curupira em "A Marvada Carne" (Infelizmente não vem com "Billie Jean junto!)
E em roupagem nova, urbanizada, temos o Curupira Cyberpunk!
Um começo de semana sinistro, gótico e por que não estranho, é a ressaca de Halloween, caríssimos!
Abaixo, fiquem com a "moça" que deixa o esquisitaço Marilyn Manson no chinelo em termos de bizarreira!
Trata-se de "Anna-Varney Cantodea", bruxa transexual gótico-depressiva adepta de "Butoh" (é uma espécie de dança teatral de origem japonesa, onde o artista geralmente está todo maquiado de branco e sua apresentação procura destacar dor e sofrimento) e líder do projeto musical conhecido como "Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows"!
Bizarro e assustador é pouco!
"Birth Fiendish Configuration" (Sopor Aeternus)
Continuando no clima macabro, vamos terminar com o curta documental de 1970 do surreal e estranho Jan Svankmajer,"The Ossuary", sobre um ossuário (dã!) do monastério Sedlec, da República Tcheca, composta por nada menos que os ossos de quase setenta mil defuntos!
Cientista Louco. Aleijado demente. Psiquiatra vingativo. Gângster. Colecionador de zumbis. Drácula.
Semana passada, dia 20 de outubro, se vivo fosse, Bela Lugosi completaria 129 anos de puro horror.
"Island of Lost Souls" (1932)
"The Devil Bat" (1940)
"O Filho do Frankenstein" (1939)
"White Zombie" (1932)
Graças a filmes como "White Zombie", "Island of Lost Souls", "O Filho de Frankenstein", "The Devil Bat", "Drácula", e muitos outros, Bela Lugosi nunca será esquecido! Sua carne está morta, mas seu legado é eterno!!!
(Pausa dramática para risada maníaca)
HA HA HA HA HA HA HA!!!
"Bela Lugosi's Dead" (Bauhaus, 1979, com cenas de "Drácula" de 1931)