quarta-feira, 2 de maio de 2012

Parque de diversões no cinema

O "The Dark One Podtrash" dessa semana (http://td1p.com/podtrash-86-demencia-para-sempre/#comment-3458) homenageia o auto-proclamado "Papa do Trash" John Waters e os diretores que o influenciaram, pois falamos do maneiríssimo "Cecil Bem Demente"!

Hoje exumaremos um desses influenciadores, o senhor dos filmes B e de orçamento baixíssimo, mas que sabia promovê-los como se fossem a oitava maravilha do mundo! Os assentos estão confortáveis? Cuidado com o choque no traseiro, pois vamos conversar sobre um maluco gemial que sabia promover como ninguém as suas obras de terror: William Castle (bem, José Mojica Marins também sabia, ele armava um verdadeiro circo dos horrores quando lançava os seus filmes)!

William Castle, o produtor de "O Bebê da Rosa Maria" do Polanski (e fez ponta nesse filme!), era famoso por atrair o público pras suas sessões de cinema com todo tipo de propaganda bizarra e inteligente, porque dava certo! No caso do filme "Macabre" de 1958, por exemplo, ele garantia uma apólice de seguro pra cada espectador caso o pobre morresse de susto durante a exibição! Está escrito até no poster!





Trailer "Macabre" (1958)

Em "Homicidal" há uma pausa faltando uns dez minutos pro filme acabar com um relógio de aviso gigante de 45 segundos na tela dando tempo pros menos valentes irem embora! Os cagões ainda ganhavam um "bilhete do Covarde" na saída, que valia o dinheiro do ingresso de volta!

Pausa para o susto em "Homicidal"(1961)

O "House on The Haunted Hill" estrelado por Vincent Price tinha um esqueleto no final,e no momento em que ele aparecia um esqueleto pendurado no teto do cinema era lançado no meio da sala num efeito 3D realíssimo, para instilar terror no coração da platéia! Era o bisavô do 3D, o "Emergo"!

O trailer de "House on the haunted Hill" (1959)


O poster com o esqueleto do mal

Se tivemos o bisavô do 3D, que tal o vovô falcatrua do 3D? Era o "Illusion-O", um óculos de papelão com celofane azul e vermelho que permitia ao bravo espectador "entrar no mundo dos espíritos" e assistir aos fantasmas que aparecem na tela - claro que os seres do outro mundo apareciam de qualquer jeito em "13 Ghosts", com ou sem óculos!

Trailer de "13 Ghosts" (1960)

Além de todas essas bizarreiras - inclusive algumas sessões tinham uma ambulância na porta pra que os de coração fraco fossem levados - os truques deviam estar em perfeita sincronia com o que se passava na tela! Mais ou menos como acontecia nas antigas sessões de cinema mudo, onde o piano tocado ao vivo dava o tom que a cena pedia. O truque mais famoso de William Castle em seus filmes talvez seja o "Percepto"! Ele instalou nos assentos do cinema dispositivos de choque para "The Tingler"! A história era sobre o personagem do Vincent Price adepto de LSD (!?!) descobrindo uma lacraia parasita de humanos que se alimenta de medo - inclusive ela virou até monstro dos quadrinhos da Marvel que faleceu miseravelmente quando ele tentou possuir o Demolidor - O Homem Sem Medo (é sério!). Mas pra quê história? O pessoal ia assistir pelo prazer de ser submetido à eletrocução! Mais ou menos como hoje em dia quando o pessoal desconhece a trama e vai pro cinema multiplex assistir ao blockbuster mais próximo em 3D!


William Castle avisando a galera pra gritar quando a eletrocução começar em "The Tingler" (1959)!


No caso de "The Tingler", lá pro final da projeção (o clímax do filme é dentro de um cinema passando um filme mudo, vejam só!) as luzes se apagam e o vozeirão de Vincent Price conclama a anarquia:"Todos gritem por suas vidas!" E as eletrocuções controladas remotamente a mando do sádico diretor tinham início! O povo pagava pra tomar choque! E rindo! Absolutamente um gênio esse William Castle. Detalhe também para o momento de terror a cores no banheiro num filme preto e branco, o que nos remete mais uma vez a José Mojica Marins, mais precisamente "Essa Noite Encarnarei No Teu Cadáver" (67), quando nos surge de forma espetacular a visão de inferno colorido do Zé do Caixão!

Por fim, o interessante nisso tudo era que os filmes do William Castle eram especialmente preparados pensando na exibição na sala de cinema, com toda a variedade de traquitanas e subterfúgios propagandísticos pra atrair o povo pras sessões! Esse lendário - e espertamente insano - cineasta transformava com muita competência o cinema num verdadeiro trem fantasma, fazendo valer o slogan de que cinema é, de fato, a maior diversão! E ainda vinha com aqueles avisos pra cardíacos antes de entrar na montanha russa! Só faltou, infelizmente, a Conga - a Mulher Gorila!

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