quarta-feira, 27 de junho de 2012

Moonwalk na estrada dos tijolos amarelos


"Oliver Twist", "Alice no País das Maravilhas", "A Fantástica Fábrica de Chocolates", "O Mágico de Oz"... Alguns desses livros infantis da língua inglesas famosos no mundo inteiro acabaram virando peça de teatro, desenho animado, quadrinhos, filmes, espetáculos musicais da Broadway - tem até ópera do "Alice no País das Maravilhas"!

Mas no quesito cinema, existem filmes baseados nessas fábulas voltadas pra molecada que excedem magnificamente em categorias que estimo demais: o bizarro, o surreal e o estranho. Sim, o caríssimo leitor quase certamente concordará com esses aspectos, se pensarmos na verdadeira viagem lisérgica dos Estúdios Waldisnei que é a animação baseada na obra de Lewis Carroll, ou na bizarríssima viagem de barco pela fábrica maluca do insano Gene Wilder em "A Fantástica Fábrica de Chocolates" de 71! E se "O Mágico de Oz" de 1939 não for psicodélico o suficiente, sempre podemos contar com a mãozinha musical do lado escuro da lua do Pink Floyd para isso! Ou, pra radicalizar de vez, não esqueçamos de "Zardoz", o "filme-cabeça" (!) estrelado por Sean Connery onde Oz desempenha um papel fundamental!

Assim, levando em consideração toda a psicodelia, o surrealismo e a bizarrice do parágrafo anterior, é preciso mencionar que nada é definitivo: o que é estranho sempre pode ficar mais estranho, principalmente quando lidamos com Oz! Em 39 Judy Garland visitou esse lugar surreal e fantástico. Em 71 os turcos plagiaram. Em 84 Os Trapalhões falaram do problema da seca com "O Mágico de Oroz". Em 74 o conto sobre o Mágico de Oz tem papel fundamental na construção da distopia pós apocalíptica de Zardoz. Mas foi em 78 que o movimento do blaxploitation se apropriou de Oz, com resultados no mínimo bizarros! Por quê? Bem, por vários motivos. Um dos principais é que a Dorothy dessa versão não é uma garotinha inocente, e sim uma professorinha de 24 anos! Outro, igualmente relevante, é que Michael Jackson, o Rei do Bizarro, está no filme!



"The Wiz" (78), dirigido por Sidney Lumet, é a transposição da Motown pras telas do musical de sucesso da Broadway com elenco todo negro. Tudo é estranho ao cubo nesse filmaço! A Diana Ross de 34 anos de idade na época fez um escândalo pra ser a protagonista, que na história original tem só seis anos! Oz na verdade é uma Nova Iorque muitas vezes sombria e assustadora, e a trama foi remodelada para adequar questões sociais negras, pertinentes ao movimento blaxploitation daquele período nos States. Tudo tem explicação, caríssimos! Dorothy nesse filme não pode mais ser uma garotinha e a Terra de Oz não é mais fantástica e maravilhosa: a inocência morreu com a opressão e Oz é um gueto!

Sim, a Oz blaxploitation tem que ter lixões, pichações, terrenos baldios, prostitutas, cafetões coloridos, um metrô sinistro e perigoso... nada muito diferente à Nova Iorque verdadeira, por sinal! E por falar no metrô de Oz-Iorque... as pilastras e latas de lixo possuídas pelo demônio  são tão baixo orçamento que conquistaram minha simpatia imediata! Quanto ao Michael Jackson, ele é o Espantalho que não é estúpido, só está confuso. Michael segue tropeçando ao lado da Diana Ross na sua jornada em busca de uma identidade própria, evidenciando um caráter sinistramente profético ao filme!!

Ironia das ironias: Michael Jackson NÃO dança durante
 o seu número musical! É, às vezes "You Can't Win"!


Esse musical tem suas falhas, mas é esquisito demais pra ser deixado de lado. A Dorothy velhinha, o Homem de Lata com suas quatro ex-esposas, o Richard Pryor no elenco, os macacos voadores motoqueiros, a dança disco/kitsch/ultra colorida no pé do World Trade Center, os bebezinhos pendurados por fios na música da Bruxa Boa emplastrada de purpurina no final... Admito, sou fã das bizarreiras presentes nesse verdadeiro fiasco de crítica e de bilheteria! Não percam por nada!

Trailer de "The Wiz" ("O Mágico Inesquecível", 1978, Sidney Lumet)


2 comentários:

  1. Eis um filme que não me orgulho de ter visto.

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  2. Esse filme pra mim é daqueles que eu gosto mas tenho vergonha de contar pra todo mundo!

    Vai entender...

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