sexta-feira, 22 de abril de 2011

Jagger, Bowie, Garfunkel... e Roeg


O britânico Nicolas Roeg é um diretor indiscutivelmente foda. O que ele exibia em seu filmes há quarenta, trinta anos atrás, está de tal forma na moda hoje em dia que dificilmente uma obra sua poderia passar como datada atualmente. Querem exemplos? Basta falar da narrativa não-linear cheia de cortes cronológicos e o visual rápido estilo videoclipe (muitos anos antes do videoclipe!) que tornam suas obras um espetáculo fascinante de se assistir.

E como se não bastasse, não sei explicar o motivo, Nicolas Roeg às vezes escalava como protagonistas astros do rock! É o caso de Mick Jagger no polêmico "Performance" (1970), de David Bowie na esquisitíssima ficção científica "O Homem que Caiu na Terra" (1976) e de Art Garfunkel no filme exumado de hoje (e que não tem nada a ver com a Páscoa!), o sinistro e erótico "Bad Timing" (1980).

A história começa pelo meio: primeiro, a suposta tentativa de suicídio por overdose da alcóolatra, maravilhosa, violenta e sexy personagem de Theresa Russell e depois, o quebra-cabeças em flashback de seu romance perturbador com o amante neurótico e controlador, o professor de psiquiatria interpretado por Garfunkel. E tudo isso investigado pelo policial durão Harvey Keitel enquanto os médicos tentam salvar a garota da morte!

E numa ode ao sombrio e ao excêntrico, somos brindados com uma cena de amor entre os pombinhos de mente doentia intercalada por nada menos que uma traqueostomia! Mas como cinema não é só imagem em movimento, os sons também se misturam: os gemidos de prazer da Theresa Russell durante o sexo são intercalados por seus gemidos agonizantes quando os médicos perfuram a garganta dela! Sinistro...

Por fim, um detalhe macabro da vida de Garfunkel. Sua namorada na vida real, Laurie Bird, suicidou-se no apartamento deles um ano antes do lançamento de "Bad Timing"! Será pelo aspecto auto-biográfico que Nicolas Roeg escala astros do rock em seus filmes? Garfunkel interpreta um cara instável cuja namorada tenta se matar, Jagger faz um roqueiro drogado em "Performance", e Bowie... bem, David Bowie faz o papel de um E.T. caindo na Terra!

Recomendo, para quem não conhece, os filmes desse diretor britânico, especialmente esse complexo e sinistro aqui desenterrado. Fala, entre tantas coisas, sobre boas e más lembranças que não são necessariamente verdade e sobre o caminho violento que as relações apaixonadas e obssessivas podem seguir, principalmente entre duas pessoas tão malucas e problemáticas. Mas aí a pergunta se faz necessária: de perto, quem é normal?

O trailer

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