sexta-feira, 27 de abril de 2012

Charles Bronson com seu carisma na chuva e The Doors com sua música na tempestade

O mestre bigodudo esbanjador de versatilidade interpretativa protagoniza mais uma exumação! Dessa vez, vamos para algo completamente diferente... Charles Bronson é um sujeito durão e violento que não mede esforços para cumprir seus desígnios, inclusive espancar meliantes indefesos! É, eu tento enfeitar o pavão, mas não dá: Charles Bronson é fato imutável, é uma verdade tão constante quanto a sábia letra da música de Rogério Skylab: banheiro de boteco pé sujo jamais terá papel higiênico no momento de maior necessidade!

Charles Bronson e seu jeito especial com as mulheres


Mas deixando o desespero evacuatório nos bares pra lá, eis a surpresa, caríssimos! O filme de hoje é uma produção ítalo-francesa de 1970 dirigida por René Clement. E é um policial diferente, sem explosões, perseguições de carro e pouquíssimos tiros! E essa pérola ainda tem toda aquela atmosfera misteriosa de filme europeu! A história trata de uma belíssima francesa ruiva cuja mãe é caçadora de maridos alcóolatra e o marido é um machão italiano à moda antiga, com crises de ciúme e que tais. Em uma terça-feira fatídica, nossa heroína é perseguida por um maluco tarado na estrada que invade sua casa. Depois de ser estuprada pelo pinel, ela consegue assassiná-lo e despejá-lo no mar. E Charles Bronson, O Americano, vai investigar.

Melancolia triste e melancólica

Como a mulher não quer que ninguém saiba os horrores por que passou naquela noite, ela comete o terrível engano de se negar a cooperar com o bigodudo durão. E, a partir daí, tome jogo de gato e rato estilo Inquisição Espanhola: Melancolia (é o nome da ruiva!) sofre horrores na mão do sádico policial cujo hobby preferido parece ser embriagar mocinhas com uísque, fingir que vai atirar na cara delas e arremessar nozes na vidraça! Capitão Nascimento não faria melhor!

Charles Bronson e seu carisma especial com as mulheres


Ah, querem saber o nome do filme? "Le Passager de la Pluie", ou "O Passageiro da Chuva". Ou, melhor ainda, "Rider On The Rain", como ficou conhecido em inglês. Segundo o Imdb, foi da atmosfera dessa obra que surgiu a inspiração pro Jim Morrisson compor "Riders On The Storm"!

Quem diria, Charles Bronson influenciando a última música dos The Doors gravada em estúdio por Jim Morrisson antes dele ir morrer na França! Sinistro!

Segue trecho de Rider On The Rain":


E, claro, "Riders On The Storm"!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Telefone para Charles Bronson!



Embarcando junto com o The Dark One Podtrash dessa semana sobre Charles Bronson (http://td1p.com/podtrash-85-diga-oi-para-meu-amigo/), que tal exumar um filme esquisito do nosso amigo bigodudo, membro cativo da tríade bigoduda sinistra composta pelo próprio, por Burt Reynolds e, claro, Tom Selleck?

A pérola escolhida foi "Telefon" (sem "ph"!), de 1977, onde somos brindados com mais um banho de carisma, interpretação e versatilidade de Charles "Domingo Maior" Bronson ! A diferença é que essas qualidades que tão bem conhecemos devido aos domingos insones e depressivos pós Fantástico não pertencem ao vingativo arquiteto americano Paul Kersey, mas sim ao simpático major russo Borzov - sim, Charles Bronson no papel de um agente soviético! Salvando a América da terrível operação secreta "Telefon" (sem "ph"!) posta em ação por Donald Pleasence de espião russo maluco!


Presta atenção na Operação "Telefon" (sem "ph"!), caríssimos (eu juro que o roteiro não é do Timothy Leary!): depois da Crise dos Mísseis, cinco dezenas de agentes russos foram hipnotizados e mandados pros States pra viver uma vidinha pacata e mundana por lá. Apenas, porém, até um espírito de porco sussurrar via telefone uns versos de um poema, o código de transformação do russo em pele de americano numa máquina de matar e explodir suicida! O plano genial daria certo, evidentemente, porque todo mundo sabe que o americano médio, tal qual Homer Simpson, não participa de saraus de poemas! É Fantástico! A premissa é tão bisonha que faria mais sentido se a mensagem pro sujeito pré-programado do outro lado da linha fosse que ele só tem sete dias de vida depois de assistir à fita de "O Chamado"!

Mas Donald Pleasence, o mestre dos disfarces, levou pra América o caderno surrupiado com os telefones e endereços desses russos adormecidos e esquecidos por anos! E só de sacanagem ele telefona e aciona um por um os suicidas lobotomizados para explodirem junto com os seus alvos, as bases militares americanas. Contudo, Charles Bronson fará de tudo para impedir! Como? Ele tem olhos de tigre, carisma, bigode... e memória eidética! Ele decorou toda a lista telefônica do caderno do mal!

E, graças à conveniência suprema do roteiro, nosso herói já tinha estado nos EUA, então fomos caridosamente poupados das tentativas de Charles Bronson de falar com sotaque russo! Aliás, todo mundo no filme fala o "inglês-esperanto" universal! Nós também ficamos livres daqueles clichês típicos do "Crocodilo Dundee", em que um estrangeiro tenta se adaptar às metrópoles americanas. Tudo que temos é Charles Bronson de 007 de araque com sua bongirl a tiracolo passeando e investigando pra lá e pra cá com alguns tiros e catiripapos esparsos - aliás, como em qualquer filme dele!



O filme é bizarro (Charles Bronson de soviético!) e ao mesmo tempo familiar (Charles Bronson como um astronauta chinês teria interpretação idêntica, por exemplo!). Há cenas impensáveis atualmente, como a nerd cientista responsável pelos "batcomputadores" oniscientes e "sentimentais" da CIA ser parabenizada pelo chefão com uma bitoca na boca, no melhor estilo anos setenta! E no fim uma pobre cascavel tem sua cabeça removida a bala de verdade!

Pra finalizar, o diretor (o mesmo de "Dirty Harry", claro!) queria que Charles Bronson raspasse o bigode pro filme, no que ele retrucou imediatamente: "Sem bigode... sem Bronson". Pois é, punks! Isso fez o meu dia!

Trailer de "Telefon" (sem "ph"!), dirigido por Don Siegel.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O mártir e a dança da morte



Uma estranha menininha epiléptica e seu cachorro negro colossal (deve ser da raça do Marmaduke). Uma mulher com amnésia e um passado terrível. Um taxidermista sufocado pela velha mãe. Uma atriz italiana vendedora de ossos para animais obcecada em remover suas verrugas. Uma grávida de gêmeas quíntuplas. Um inexperiente e jovem toureador espanhol. Por incrível que pareça todos esses personagens bizarros e suas histórias esquisitas se conectam nesse estranho filme francês por meio do cadáver morto do falecido defunto de um pobre touro, assassinado na arena e desmembrado num matadouro, de verdade em frente às câmeras!



Se "Carnages" (2002) de Delphine Gleize não chega a ser uma jornada épica e complexa de mais de três horas de duração como o aclamado "Short Cuts" (1993) de Robert Altman, com seus quase trinta personagens e suas histórias mescladas entre si, eles acabam tendo alguns temas em comum: o reencontro de parentes sumidos, atropelamentos, cenas em hospital, crises conjugais e por aí vai, mas o assunto central talvez seja a morte mesmo. Só que enquanto em "Short Cuts" as histórias se conectam  através da música (jazz ou clássica), em "Carnages" os mórbidos pedaços do supracitado touro é que cumprirão esse papel de ligação. E se no primeiro todo mundo vive em los Angeles, é local, as partes do pobre animal morto passeiam pela Espanha, França e Bélgica até chegarem aos personagens - é uma viagem internacional!

O filme é fascinante nos seus pequenos detalhes sangrentos e macabros: o jovem toureador assassina o bicho, e este em represália arranca fora o fígado do moleque, assistido na tevê em tempo real pela garota epiléptica e seu cachorro-cavalo, o futuro ganhador do fêmur do mesmo touro! Fêmur esse vendido pela atriz fracassada fazendo bico em supermercado (essa moça é a filha do Marcello Mastroianni com a Catherine Deneuve!) e assídua freqüentadora de sessões de terapia pelada numa piscina com seu namorado patinador insano! Os olhos do bicho acabam com um pesquisador de córneas cuja esposa está grávida de quíntuplas, e os chifres são adquiridos pela velha mãe de um taxidermista de pai surdo-mudo desaparecido que quase lembra Norman Bates (essa é a velhinha do filmaço "Desde Que Otar Partiu"!). Pra fechar o ciclo, a professora da menina maluquinha tem como mãe uma espanhola com amnésia (Angela Molina) que cometeu atrocidades no passado, e ela janta um bifão do touro!

Se a tourada é a dança da morte, nesse filme vemos os personagens passeando e "dançando" pela tela com suas estranhas histórias de vida. Muitos desses personagens vão morrer, outros, como as quíntuplas, nascem. É um filme ao mesmo tempo macabro por causa das cenas gráficas de esquartejamento do animal, mas também interessante e emocionante por expor a vida e a morte e suas estranhas ligações - esse é o título em português do filme, vejam só, que tem até música do Ney Matogrosso!

E um minuto de silêncio ao touro, sacrificado de verdade pra fazer o filme! Ele, na verdade, será o representante-mártir dos milhões de seres bovinos subjugados pela humanidade em nome do bife - e do cinema! "Apocalipse Now", "Oxen", "Idi I Smotri", a exumação de hoje "Carnages"... existem muitos filmes que mataram bois à vera em frente às câmeras em nome da arte!

Quem sabe, talvez, a próxima exumação seja sobre filmes onde as galinhas e os frangos foram as vítimas sacrificadas para aplacar a fome de cinema dos espectadores-glutões, nós mesmos!

O protesto da vaca viúva


Trailer de "Carnages" (2002, Delphine Gleize)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Magnólia, Teresa, Zula, Domingas, Rosa, Dorothy, Augusta, Xica da Silva, Ana, Jesualda, Lorraine, Rita, Domênica, Georgia, Katarina...

"Força Bruta", 1970

Quase sempre meu voto é vencido na hora de escolher a trilha sonora do The Dark One Podtrash, caríssimos!

Esse blog tenta corrigir essas terríveis injustiças cometidas!

Abaixo, segue a trilha sugerida por este que vos escreve, 100% nacional, para o Chorume de Pornochanchada (http://td1p.com/podtrash-84-como-era-bom-esse-chorume/)!

"Bem-Vinda Amizade", 1981


O querido compositor samba/funk/soul que sempre exaltou as maravilhosas mulheres desse Brasil varonil, com talento e maestria inigualáveis, é único na sua lista gigante que se extende ao infinito de musas-mulheres-musicadas! Zazueira, clareia Santa Clara!

Os alquimistas estão chegando? Mas que nada, chama o síndico e balança a pema!

Viva Jorge Ben!

"A Tábua de Esmeralda", 1974

"Mulher Brasileira" (álbum "Força Bruta", 1970)



"Minha Teimosia" (álbum "a Tábua de Esmeralda", 1974)


"Oba, Lá Vem Ela" (álbum "Força Bruta", 1970)

"Menina Mulher da Pele Preta"  (álbum "Tábua de Esmeralda", 1974)

"Olha a Beleza Dela" (compacto de 1972)


"Lorraine" ao vivo com Tim Maia! ("Bem-Vinda Amizade", 1981)

E por aí vai, a lista-homenagem à mulherada é maior do que o Taj Mahal!!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"I" de escola e "E" de isqueiro



Horror! Medo! Desespero! Segura o Tchan!

Caríssimos, falar da exumação de hoje em pleno episódio de The Dark One Podtrash da semana sobre pornochanchada (http://td1p.com/podtrash-84-como-era-bom-esse-chorume/) é uma das maiores sacanagens possíveis! Mas a cachaça, como evidenciado ao longo dos tempos, destrói qualquer discernimento e bom senso... Depois de já calibrado, resolvi assistir o inominável qualquer coisa "Cinderela Baiana" (1998). Por quê? Pra quê? Mistério insondável. Mas a merda já está feita.

É... vamos, então, à produção estrelada por Carla "É o Tchan" Perez, de 1998, prova de que gente boa como Antonio Galante, o produtor, pode cometer coisas ruins como esse cocô dos brabos, cujo odor está fresquinho na memória! Se a teoria de que tudo tem seu lado positivo é verdade, vamos perscrutar esta pérola bisonha e descobrir os ensinamentos e lições do dia, via Carla Perez!

Primeira lição: depois que sua mãe morre fulminada no interior paupérrimo do sertão baiano, a dançante menina Carla é levada por seu pai tosco a Salvador, antes mesmo do velório da genitora acabar! Eles estão com pressa e são velozes, porque na cena seguinte a pequena Carla já aparece crescida e dançando, no segundo melhor exemplo de "Metamorfose Suprema!" do cinema trash nacional, graças ao baixo orçamento! O melhor caso de "Metamorfose Suprema!", pra quem ficou curioso, é esse aqui:

Metamorfose Suprema - Pepa Filmes


Segunda lição: roubar acarajé da velha baiana ao lado de Lázaro Ramos, aqui no papel de alívio cômico, rende duas cenas inacreditáveis - uma delas é a dança na rua da "Cinderela Baiana", que de tão poderosa faz com que figurantes se materializem do nada (fenômeno recorrente, aliás) e saiam sambando e comprando os quitutes da anciã! A outra mostra essa mesma velha trocando idéia espiritual com os orixás sobre o destino da Carla Perez! Sinistro!

Terceira lição: ser descoberta via telescópio pelo cafetão kitsch da dança, o lorde/bicheiro/pirata de Salvador que fala e grita como supervilão de desenho animado, rende banho de loja estilo "Uma Linda Mulher" e almoço de lagosta, mas também superexploração - a pobre Carla Perez precisa fazer dois shows no mesmo horário e em lugares diferentes: um em Paris e outro em Nova Iorque!! Via jatinho-teleporte do vilão do mal!!

Quarta lição: Alexandre Pires no início de carreira fazia show de tribo em tribo africana graças às maquinações do histriônico vilão-empresário! Quando nossa heroína descobre que o cafetão kitsch da dança é vilão do mal, ela pula fora, o que rende uma inacreditável cena de luta na praia, envolvendo Alexandre Pires, dois capangas e os alívios cômicos amigos da Cinderela - Lázaro Ramos, um deles, inclusive puxa a orelha de um capanga no melhor estilo Trapalhões! Carla Perez, agradecida, até escorrega no português afobadamente - "Apesar de eu ter se esquecido de vocês, vocês vieram me salvar"! É... Alexandre Pires de mocinho é quase tão bizarro quanto Sérgio Mallandro de príncipe encantado em "Lua de Cristal", outro momento glorioso para o cinema nacional!

Lição Terminal: Carla Perez, estrela da dança suprema, vai fazer caridade num momento "Patch Adams" às criancinhas cancerosas e vai soltar passarinhos de gaiola e fazer discurso pelos direitos da criança na beira da estrada em que ela passava fome com a mãe no início, regado a "Segura o Tchan"! Se o leitor não acredita, veja o final desse ícone cinematográfico dos anos 90, que conta até com helicóptero! E sofra o sofrimento de mil agonias infernais em três minutos!

Final de "Cinderela Baiana" (direção Conrado Sanchez)

terça-feira, 17 de abril de 2012

A senhora das bocas


Caríssimos, hoje vambora pra um filmaço nacional. Violentíssimo, subversivo, impressionante, maníaco... foda.

"Rainha Diaba" (1974), do Antonio Carlos Fontoura, merece todos as ovações possíveis e imagináveis. Pensem naquelas tramas cheias de reviravoltas e roteiro que prende a atenção desde o início tipo "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" do Guy Ritchie ou "Cães de Aluguel", mas numa versão independente carioca da gema... há quase quarenta anos atrás!

Esse tesouro brasileiro é uma crônica policial sobre as ações e reações do rei do narcotráfico no Rio de Janeiro que, inesperadamente, é rainha! O chefe das bocas sádico, passional, violento e homossexual "Rainha Diaba" - essa é a melhor atuação da carreira de Milton Gonçalves - que toca o terror no filme é inspirado livremente em Madame Satã, o travesti/contraventor/malandro/mestre da navalha/carnavalesco/capoeirista mais famoso da Lapa do século passado.

A obra impressiona sob qualquer aspecto. As atuações são soberbas - o Milton Gonçalves está possuído (!) no papel (confiram na cena da tortura no salão ou mesmo no final épico), mas temos também Nelson Xavier, a essência do malandro traíra, manipulando todos os outros personagens pelo controle das bocas da Rainha Diaba.

O figurino e a cenografia são espetacularmente cafonas, vide os créditos iniciais de cartolina e purpurina estilo trabalho escolar do primário, a vestimenta de lantejoula verde da quenga cantora de cabaré (Odete Lara) com sua peruca verde combinando e, por fim, o quarto de bordel e quartel general da Rainha Diaba, mais colorido que um episódio dos Teletubies! Imaginem se o Falcão resolvesse fazer um videoclipe em Bollywood dirigido pelo Almodóvar! ainda assim, esse filme conseguiria ser mais cafona!

A trilha sonora vai de James Brown a Caubi Peixoto, de David Bowie a bolero argentino, passando por Harry Belafonte! Apesar do baixo orçamento, a ação é digníssima e eletrizante. O mais legal, no entanto, é o diálogo - todo o elenco é fluente em "malandrês" carioca dos anos setenta!

O filme apresenta narrativa envolvente, tem chacina, tem os travestis mais surreais do cinema, ancestrais de "Priscila, a Rainha do Deserto", tem os inacreditáveis capangas das bocas da Rainha Diaba (Anão, Coisa Ruim, Peludo, Manco - esse último é o onipresente Wilson Grey!), tem o cabaré-prostíbulo "Leite da Mulher Amada"- nome de vinho branco de supermercado (o "Liebfraumilch"!),tem Zezé Motta pelada... e tem a cena da tortura no salão.

Caríssimos, a protagonista-título e seu séquito de travecos e bibas raptam a quenga depois do seu número estilo Almodóvar com David Lynch. O que se sucede a partir daí no salão de cabeleireiro é uma tortura digna do "Cães de Aluguel": Milton Gonçalves com "a diaba" no corpo queima a infeliz da profissional do sexo com cigarro, fura com alfinete, e a pobre vai resistindo... até a chegada da chapinha satânica nas partes baixas seguida de navalha!

Esse filme é antecipação cinematográfica tupiniquim de Tarantino e Almodóvar, e mistura com talento numa espécie de "panela sexploitation" muita violência, mulata pelada, festa de aniversário bizarra com travecos, um retrato pioneiro do narcotráfico carioca, favela, baixo orçamento, Milton Gonçalves de baitola, cabaré, traições e cadáveres empilhados.  Sem mais, "Rainha Diaba" é imperdível!

 Cena do número musical da Odete Lara em "Rainha Diaba"



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mickey e Mallory à brasileira?



Hm... Acredito que não. Bem, a exumação cinematográfica de hoje - que é do Brasil-sil-sil! - de certa forma tem algumas semelhanças com o filmaço do Oliver Stone, "Assassinos Por Natureza", mas são coisinhas de nada.

A história de "Beijo Na Boca", de 1982, gira em torno de um casal carioca de assassinos e amantes malucos, e acabam ganhando a atenção da mídia pelos seus atos escabrosos. Mas é só. Woody Harrelson fez Mickey, Juliette Lewis fez Mallory, Mário Gomes é Mário e Claudia Ohana é... bem, Claudia Ohana nesse filme é Celestial! Quem assistiu concorda que Mário Gomes é um dos sujeitos mais sortudos e invejados do Brasil!

Celeste é a patricinha classe média de pais conservadores moradora de Copacabana e Mário (o personagem é xará do ator, vejam só!) é o malandro contraventor habitante da Cinelândia! Woody Harrelson deixa o Mário Gomes no chinelo no quesito atuação, e a pobre Juliette Lewis tá lascada se tivermos em mente Claudia Ohana no chuveiro!

É até sacanagem comparar a violência do violentíssimo "Assassinos Por Natureza" com o "Beijo Na Boca".  Mas tem o lado positivo: o que falta em sangue e morte a essa ode em película a uma das musas celestiais da Ordem Sagrada dos Cavaleiros de Onam, sobra pra nossa boa e velha sacanagem!

"Beijo Na Boca" não tem uma trama maravilhosa (é baseada numa história real da época de um casal assassino) e o Mário Gomes é muito tosco atuando, mas temos cenas da Cinelândia e do planetário de trinta anos atrás, tem uma bicha apelidada de "Dick Vaporubi", participações da Joana Fomm, Cissa Guimarães e Stepan Nercessian, é produzido por Pedro Rovai... e a Claudia Ohana está esplendorosamente nua em pêlo (!) em quase todas as cenas!

Juliette Lewis, gosto muito de você, mas por esse ângulo ginecológico (!), o ponto é golaço de placa que vai pro Brasil-sil-sil!!

Trecho de "Beijo Na Boca" (direção de Paulo Sérgio de Almeida)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sexta-feira treze, tempo de bruxaria do Extremo Oriente

A bruxa continua solta nessa fatídica sexta-feira treze! O The Dark One Podtrash sobre o "Arraste-me Para o Inferno" do Sam Raimi (http://td1p.com/podtrash-83-hipoteque-sua-alma-e-corra/) versa sobre possessões demoníacas, maldições e outras mandingas a que o público ocidental está acostumado! Vamos para o outro lado do mundo (onde já não deve ser mais sexta-feira 13 e sim sábado 14 por questões de fuso horário!) e observar bruxos orientais em dois filmes muito bizarros, citados em outro The Dark One Podtrash, o dos vampiros pula-pula que contou com a excelente participação da galera do CineMasmorra (http://td1p.com/podtrash-52-pula-vampiro/). Preparem-se pra feitiçaria com olhos puxados!



O primeiro foi o "Encounters of the Spooky Kind" (1980), dirigido, escrito e estrelado pelo gordo carateca mais ágil e impressionante do mundo, o Sammo Hung! Na história, o gordo Sammo, além de obeso, é corno... e vítima de conspiração da esposa com o ricardão. Os dois contratam um bruxo taoísta do mal pra dar cabo do balofo-acrobata mestre do kung fu! E tome vampiros saltitantes, possessões, as sempre aguardadas lutas coreografadas onde um banquinho é arma mortal (o Sammo Hung é da mesma escola do Jackie Chan!), vodu de dominação de corpos mortos ou vivos através de rituais fantásticos, cujos requisitos materiais podem ser sangue, fogo, incenso, ratos, ovos... A batalha final do bruxo do mal contra o bruxo mestre do Sammo Hung, este último fantoche-vodu encarnando o espírito de um macaco lutador... é imperdível - assim como o destino da esposa adúltera!

Trechos de "Gui da Gui" (1980, Sammo Hung)



O segundo filme (da Indonésia), "Mystics in Bali" (81), mostra o destino da garota amaldiçoada por uma entidade-bruxa serpentiforme em que sua cabeça desprende do corpo com os intestinos pendurados em busca de sangue! Esta bizarrice conta com muito gore, lutas entre o mal e um mestre exorcista tipo o Van Helsing, defeitos especiais da pior qualidade... e a cereja do bolo vem na forma de um rato vivo vomitado pra valer! Nem pense em perder esse aqui!

Trechos de "Leak" (1981, do mesmo diretor de "Lady Terminator", o plágio descarado de Exterminador do Futuro!)

E se o leitor ainda tiver miolos depois dessa, não perca o original chinês, "Witch of the Flying Head", de 1977! Encontra-se inteirinho aqui no Youtube (sem legendas e em Mandarim!!), com direito a trilha de abertura plagiada do Conan!

http://www.youtube.com/watch?v=s-9fV4gFTeo

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Deus, o sniper, a velhinha e a abdução alienígena


A exumação de hoje é um filme-salada de gêneros: é policial, mistério, horror sobrenatural, ficção científica, fantasia lisérgica-religiosa, tudo junto misturado! O roteiro mirabolante dessa obra jamais passaria pela cabeça do líder da insana seita da Cientologia - o L. Ron Hubbard, caríssimos!

A produção mega cult na mesa de exumação do dia é "Foi Deus Quem Mandou" de 1976, do cineasta independente Larry Cohen, o mesmo cara que fez "Nasce Um Monstro".

A película começa mexendo num vespeiro extremamente espinhoso ainda hoje no mundo todo e já bastante polêmico naquele tempo nos States: a questão do fanatismo religioso como motivador de assassinos seriais. Um biruta portando um rifle com mira de precisão resolve subir no alto de um edifício de uma metrópole americana, mais precisamente em cima de uma caixa d'água. Dali, ele começa a assassinar transeuntes a esmo e, quando o policial protagonista vai prendê-lo, ele se joga pra morte gritando a frase que dá título a essa bizarra obra.

A partir daí, acompanhamos a investigação do dito policial - a propósito um católico adúltero -, que envolve outros malucos assassinos que alegam matar a mando de Jesus, um misterioso líder de uma seita esquisita, uma velhinha sinistra e casos de hipnose e histeria coletiva.

O interessante são as analogias entre a religião e os extraterrestres tipo "Eram os Deuses Astronautas?" do roteiro: a velhinha católica doida - e virgem! - alega ter concebido um bebê após uma abdução alienígena com direito a inseminação artificial e.t. nos anos 50, numa alusão à gravidez da Virgem Maria!  Sem falar no momento Caim e Abel em cena chave, em mãos feridas por estigmas parecidas com as chagas cristãs, além da bizarríssima parte em que as costelas de um personagem dão lugar a uma pulsante vagina, logo ali, à esquerda do umbigo!

Insanidades do roteiro à parte, esse é um filme independente bem atual que questiona essa maluquice toda de gente desvairada que resolve sair atirando em outras pessoas baseadas em supostos desígnios divinos. Também acaba criticando esses cultos pseudo-religiosos capazes de alterar o comportamento de pessoas desesperadas dispostas a engolir verdades construídas apressadamente.

É isso, caríssimos, trata-se de uma produção esquisita recomendada para quem gosta dos primeiros episódios do extinto seriado "Arquivo X"!

Trailer de "Foi Deus Quem Mandou" (Larry Cohen, 1976)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

E se Hermione fosse... indiana?

É, caríssimos! Bruxaria-bollywood!

Considerando a rentabilíssima infantilização da bruxaria pelo mundo graças ao fenômeno pop do Harry Potter, obviamente os indianos não podiam ficar de fora desse filão cinematográfico, não é verdade?

Desencavemos, pois, dois filmes bollywood para crianças que embarcaram nessa adorável e milionária onda de bruxaria, para a construção de adoráveis pagãozinhos pelo planeta!

O primeiro é "Makdee" (2002), a bruxa centenária do mal que vive num casarão isolado e transforma  a irmã gêmea da garota mala da vila (sim, esse filme tem irmãs gêmeas indianas no estilo Harry Potter!) numa galinha!

Pra variar, como em todo bollywood, esperem muita cantoria entre uma traquinagem e outra da colorida menina mala Chunni e das maldades da bruxa boba, feia e má Makdee! O trailer e o pôster estão aqui embaixo:

Trailer não oficial de "Makdee" (2002)



Agora os caríssimos querem ver a real capitalização bollywood em cima da franquia Harry Potter? Fiquem com "Aabra Ka Daabra" (2004), pastiche da série do menino pagão de cicatriz na testa numa escola para bruxos... em 3-D plus!!

Pôster com Gasparzinho (!?) e Harry Potter bollywood monocelha!!

Não bastasse essa desgraça em forma de plágio ter sido feita pioneiramente na Índia em três dimensões (plus!), o filme todo é uma desculpa para o vergonhoso desfile de "defeitos especiais" e de propagandas de biscoitos e lápis de cor, além dos esperados figurinos andrajosos e números musicais pegajosos! Tudo é inacreditável aqui. Ao invés de alunos voando em vassouras, temos moleques se equilibrando em tapetes voadores (mas é claro!), e se nos filmes do Harry Potter o vilão tem cara de cobra, nesse temos a diretora da escola estilo bruxa da Branca de Neve! E finalmente, o moleque não tem cicatriz em forma de trovão, mas sim uma baita monocelha!!






O plágio não se limita aos filmes "paganismo tipo exportação para crianças" baseados nos livros da J. K. Rowling, também sobra pra "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (o passaporte pra escola mágica não vem numa barra de chocolate, vem num pacote do supracitado biscoito) e - pasmem! - pro "Minority Report" e pro Gasparzinho!

Sabe aqueles filmes baratinhos do comércio alternativo que saem simultaneamente ao lançamento nos cinemas do blockbuster do qual eles são plágios descarados (tipo "Transmorphers" ou "O Tesouro de Da Vinci")? Experimente presentear uma criança com "Aabra Ka Daabra" no lugar de qualquer DVD do Harry Potter. Você vai se impressionar com a rapidez com que os pequenos candidatos a bruxos aprendem a amaldiçoar e condenar a sua alma ao inferno por toda a eternidade!

terça-feira, 10 de abril de 2012

E se Hermione fosse mexicana?



Pois é, caríssimos, a bruxa está solta! Depois de uma semana sem conexão acabei descobrindo que internet vicia e causa dependência!

Mas falando em bruxa, vamos em busca do tempo perdido! Exumemos hoje uma incrível experiência cinematográfica surreal, aterrorizante e violenta... com bruxas lésbicas! Trata-se de "Alucarda" (1975), filmaço do mexicano Juan Lopez Moctezuma, sobre duas garotas envolvidas com bruxaria, ciganos, freiras, satanismo, assassinatos... e o amor!

Tudo começa quando Justine é deixada num convento de freiras muito peculiar após a morte de seus pais. "Justine" é o mesmo nome da personagem do romance de Marquês de Sade, que vai buscar refúgio num convento, mas só encontrou depravações, orgias, estupros, perdição e danação. Essa obra, aliás, virou filme homônimo do Jess Franco - com Klaus Kinski interpretando o sádico Sade! 

Voltando à exumação de hoje, naquele "convento-catacumba", alcunha garantida tanto pela arquitetura estilo "barroco-do-mal" (!) quanto pela claustrofobia que ele promove no espectador, Justine conhece ciganos corcundas, freiras insanas vestidas como múmias e finalmente... a garota Alucarda. Essa é uma menina bem peculiar, que de cara obriga a sua parceira de traquinagens a fazer um pacto de sangue. A partir daí somos brindados com toda sorte de eventos demoníacos dentro do supracitado convento macabro num crescendo emocionante: de início, alucinações e sacrilégios, mas depois dá-lhe possessões, protagonistas nuas promovendo lesbianismo sangrento (!?) em nome das trevas, rituais e orgias pagãs envolvendo entidades chifrudas, freiras-múmias chorando lágrimas de sangue vindicativas repletas de ira divina... tudo isso só na primeira parte!

Querem mais? Na segunda parte do filme a presença sado-masoquista do marquês é clara: as garotas pagãs desafiam as autoridades (as freiras-múmias!) clamando pelo demônio durante o catecismo e somos brindados com freiras se despindo de seus trapos de múmia para serem chicoteadas pelo padre! A loucura, as possessões, o sacrilégio depravado, a inquisição expiatória no "convento-catacumba" são dignos de outra obra-prima , "The Devils" (1971), de Ken Russell!

O que dizer mais de "Alucarda", sem mencionar ainda a crucificação de Justine pelada, cadáveres possuídos, decapitações, freiras explodindo em chamas e um verdadeiro - e literal - banho de sangue no final? A obra é repleta de conflitos não resolvidos entre o bem e o mal, o sagrado e o profano, a razão contra a religião, a fantasia contra a realidade, mas a dialética mais brilhante é a garota que interpreta a protagonista Alucarda (Tina Romero): ela está divinamente (!?) inspirada no papel título de bruxa satânica!

Filmaço dos anos setenta underground, profano, proibido, que mistura com extremo talento o sexo, a violência e o sacrilégio ao catolicismo. A coragem do polêmico cineasta mexicano Moctezuma é impressionante. 'Garantia de qualidade a sangue e a fogo! "Alucarda" é obrigatório!

Trailer de "Alucarda" (Moctezuma, 1975)