quinta-feira, 19 de abril de 2012

"I" de escola e "E" de isqueiro



Horror! Medo! Desespero! Segura o Tchan!

Caríssimos, falar da exumação de hoje em pleno episódio de The Dark One Podtrash da semana sobre pornochanchada (http://td1p.com/podtrash-84-como-era-bom-esse-chorume/) é uma das maiores sacanagens possíveis! Mas a cachaça, como evidenciado ao longo dos tempos, destrói qualquer discernimento e bom senso... Depois de já calibrado, resolvi assistir o inominável qualquer coisa "Cinderela Baiana" (1998). Por quê? Pra quê? Mistério insondável. Mas a merda já está feita.

É... vamos, então, à produção estrelada por Carla "É o Tchan" Perez, de 1998, prova de que gente boa como Antonio Galante, o produtor, pode cometer coisas ruins como esse cocô dos brabos, cujo odor está fresquinho na memória! Se a teoria de que tudo tem seu lado positivo é verdade, vamos perscrutar esta pérola bisonha e descobrir os ensinamentos e lições do dia, via Carla Perez!

Primeira lição: depois que sua mãe morre fulminada no interior paupérrimo do sertão baiano, a dançante menina Carla é levada por seu pai tosco a Salvador, antes mesmo do velório da genitora acabar! Eles estão com pressa e são velozes, porque na cena seguinte a pequena Carla já aparece crescida e dançando, no segundo melhor exemplo de "Metamorfose Suprema!" do cinema trash nacional, graças ao baixo orçamento! O melhor caso de "Metamorfose Suprema!", pra quem ficou curioso, é esse aqui:

Metamorfose Suprema - Pepa Filmes


Segunda lição: roubar acarajé da velha baiana ao lado de Lázaro Ramos, aqui no papel de alívio cômico, rende duas cenas inacreditáveis - uma delas é a dança na rua da "Cinderela Baiana", que de tão poderosa faz com que figurantes se materializem do nada (fenômeno recorrente, aliás) e saiam sambando e comprando os quitutes da anciã! A outra mostra essa mesma velha trocando idéia espiritual com os orixás sobre o destino da Carla Perez! Sinistro!

Terceira lição: ser descoberta via telescópio pelo cafetão kitsch da dança, o lorde/bicheiro/pirata de Salvador que fala e grita como supervilão de desenho animado, rende banho de loja estilo "Uma Linda Mulher" e almoço de lagosta, mas também superexploração - a pobre Carla Perez precisa fazer dois shows no mesmo horário e em lugares diferentes: um em Paris e outro em Nova Iorque!! Via jatinho-teleporte do vilão do mal!!

Quarta lição: Alexandre Pires no início de carreira fazia show de tribo em tribo africana graças às maquinações do histriônico vilão-empresário! Quando nossa heroína descobre que o cafetão kitsch da dança é vilão do mal, ela pula fora, o que rende uma inacreditável cena de luta na praia, envolvendo Alexandre Pires, dois capangas e os alívios cômicos amigos da Cinderela - Lázaro Ramos, um deles, inclusive puxa a orelha de um capanga no melhor estilo Trapalhões! Carla Perez, agradecida, até escorrega no português afobadamente - "Apesar de eu ter se esquecido de vocês, vocês vieram me salvar"! É... Alexandre Pires de mocinho é quase tão bizarro quanto Sérgio Mallandro de príncipe encantado em "Lua de Cristal", outro momento glorioso para o cinema nacional!

Lição Terminal: Carla Perez, estrela da dança suprema, vai fazer caridade num momento "Patch Adams" às criancinhas cancerosas e vai soltar passarinhos de gaiola e fazer discurso pelos direitos da criança na beira da estrada em que ela passava fome com a mãe no início, regado a "Segura o Tchan"! Se o leitor não acredita, veja o final desse ícone cinematográfico dos anos 90, que conta até com helicóptero! E sofra o sofrimento de mil agonias infernais em três minutos!

Final de "Cinderela Baiana" (direção Conrado Sanchez)

4 comentários:

  1. hahaha
    Sensacional, eu sabia que um dia vocês lembrariam dessa obra prima do trash nacional, completamente não intencional.
    Certamente perderia muitas notas no critério Gunter de avaliação, sem faíscas aleatórias no teto, sem Baldwins, e assim por diante, mas seria muito divertido ouvir uma resenha dele feita por vocês lá no podtrash.
    Aliás, coincidência, falamos no nome do Lázaro Ramos esta semana e eis que ele aparece por aqui de forma inesperada e surpreendente.
    :)

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    1. A memória, quando em comunhão com a cachaça, trabalha por estranhos caminhos, Ivan!

      Acho que fiquei matutando na heresia de eu ter comparado o fenomenal Milton Gonçalves com o Lázaro Ramos e me vinguei dele de forma covarde expondo o seu podre de início de carreira sem dó!

      O Cinderela baiana, assim como uma cascata de sugestões dos ouvintes está na pauta há muito tempo, mas os filmes só podem sair de semana em semana!

      Acho que o Chorume pode sanar isso, a gente fala de um monte deles por vez!

      Valeu Ivan!

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  2. Esse filme é um acarajé mofado !!! hehehehe

    Aí Douglas , se liga:

    http://buchinsky.wordpress.com/2012/04/15/jose-mojica-marins-vai-dirigir-segmento-em-the-profane-exhibit/

    Acho que tem td para arrebentar. Aproveitei e coloquei la no Td1p.

    Cordeiro.

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    1. Excelente, Cordeiro!

      Pra variar, mais uma vez é só lá fora que José Mojica é convidado pra filmar. Tem um filme sobre um demônioo ladrão de olhos, um conto folclórico com pegada de horror que ele quer fazer há um tempão - ele fala desse projeto desde o lançamento de a Encarnação do Demônio, mas não sai por falta de investimento e apoio.

      É fueda! Vamos ver se nosso Zé ganha visibilidade e mais apoio pros seus filmes aqui em solo pátrio!

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