terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O homem é o lobo do homem



Um excelente começo de semana. caríssimos (ao menos enquanto ainda existirem segundas-feiras!). Estou na pilha de filmes sobre o fim do mundo! Primeiramente, graças ao post do Latrina no Cinemasmorra (http://cinemasmorra.com.br/tag/horror/feed/) e depois por causa do episódio do Podtrash sobre o Apocalipse (http://td1p.com/podtrash-75-chorume-filmes-de-apocalipse/)!

Por isso, nessa semana - se a internet permitir, claro - só teremos filmes estranhos, bizarros e alternativos sobre as respostas da humanidade à desintegração mundial, de hoje até a Quarta-Feira de Cinzas - se a cachaça deixar, é claro!

Vamos começar com um depressivo e angustiante, mas também um dos melhores filmes pós-apocalípticos, e logo de quem? Do "Senhor Minha Vida de Cachorro" Michael Haneke (mas quem foi que disse que sobreviver ao fim do mundo era fácil? - aliás, quem disse que era fácil viver e ponto!).

Em "Les Temps du Loups", logo de cara duas pedras fundamentais da segurança burguesa classe média são estraçalhadas: a casa (o núcleo familiar de protagonistas resolve fugir do caos urbano decorrente do fim do mundo indo pra sua casa de campo, mas já tem gente morando lá...) e a família (o pai é assassinado pelos invasores imediatamente!). E então os sobreviventes (a mãe Anne - Isabelle Huppert -, a filha adolescente e o garotinho) não terão direito nem à solidariedade dos poucos vizinhos que moram lá naquele fim de mundo (outro fim de mundo!), e vagarão sem rumo por aquele lugar rural espaçosamente claustrofóbico (!).

Haneke não poupa esses três em nenhum momento: estão sozinhos, à deriva, sem teto, a água é toda contaminada, e em um determinado momento são privados até de luz, ficam imersos em completa escuridão! Eles vão parar numa estação de trem onde um cavalo é morto de verdade em frente às câmeras e um sujeito canalha manipula as pessoas que acreditam que ali chegará o trem da esperança, que os levará para um lugar melhor. O molequinho filho da Huppert com menos de uma década de existência chega à maturidade de fazer um importante questionamento sobre a vida!  

A angústia, o desamparo e o desespero são pré-condições para a liberdade existencialista do humanismo, já dizia Jean-Paul Sartre! Pode parecer contraditório, mas se pararmos para analisar um pouquinho, depois que todas as sensações de falsa segurança são destruídas (a casa, a família, o emprego, as convenções morais e sociais de um "mundo normal" e até a própria esperança), o que sobra para o homem? Viver, ora bolas! Um longo e lento dia depois do outro, em busca de abrigo, comida e trocar experiências com outras pessoas no mesmo barco (e tirando todos os frufrus supérfluos de nossas vidas confortavelmente óbvias de classe média, não é isso mesmo?).

O que o filmaço do Michael Haneke mostra de forma muito poderosa - e radical -, entre outras coisas, é a rotina da desesperança, a luta pela vida, e a capacidade do ser humano em ser escroto para com o próximo.

Em suma, é o filme mais próximo da realidade em caso de crise apocalípitca. Esse aqui é muito especial: não vem com trilha sonora pra destruição da Terra! Mega recomendado!

"Les Temps Du Loup" (2003, Michael Haneke)


PS.: Angélica Hellish, esse post é dedicado a você!

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