quinta-feira, 19 de julho de 2012

Santa psicodelia italiana, James Bond!

Bonnie e Clyde, Mickey e Mallory Knox, Steve McQueen de Thomas Crown com a Faye Dunaway a tiracolo, até mesmo o Sean Connery e a Catherine Zetta Jones em "A Armadilha"! O subgênero cinematográfico do fora da lei charmoso e carismático que consegue realizar os mais mirabolantes crimes e de quebra  leva a polícia e, principalmente, a sua garota à loucura conta com vários exemplos ao longo das décadas. Inclusive, pasmem, a Geena Davis de namorada do Bill Murray, o bizarro assaltante de bancos fantasiado de palhaço em "Não Tenho Troco", oras! Horror!

Muito se deve o sucesso desse tipo de filme a Jean-Luc Godard, caríssimos! Graças ao estiloso e clássico  "Acossado", ele impressionou multidões com a romântica história do ladrão de carros e sua namoradinha americana cúmplice fugindo e se escondendo da polícia.



A Itália, evidentemente, não ficaria de fora desse filão, claro! A exumação de hoje é do diretor Mario Bava, o diretor dessa semana no The Dark One Podtrash (http://td1p.com/podtrash-98-mr-horror-man-bavaaa/#comment-4745). Imaginem a história do ladrão carismático e sua garota com uma roupagem mais exagerada, como pedem as tramas das histórias em quadrinhos, caríssimos. Ou melhor: imaginem uma espécie de união entre "Acossado" e "Alphaville", outro clássico de Godard, só que mais pro lado da ficção científica e o universo pop dos quadrinhos! O italiano Mario Bava vai trazer pro cinema a estridente e inacreditável adaptação do gibi de sucesso nos anos sessenta "Diabolik", sobre o audacioso personagem título, o ladrão mais megalomaníaco de todos os tempos!

Esse longa de 1968 entra na onda dos vários filmes do período sobre super-heróis e personagens de quadrinhos - na Itália temos os inesquecíveis Argoman e o Superargo, enquanto na França temos "Fantômas" e os States atacam de "Barbarella", por exemplo -, com direito a muita extravagância, psicodelia e ação desenfreada. O astro, inclusive, é o anjo namorado da Barbarella no filme do mesmo ano, o John Phillip Law! Imaginem Diabolik como uma espécie de James Bond e Batman do mal: com os planos e os equipamentos mais mirabolantes, o mestre do crime rouba milhões em dinheiro, ouro e jóias bem debaixo dos narizes do governo e da máfia e esconde tudo na sua batcaverna milionária! Mesmo com a união da polícia e da máfia, o ladrão mascarado sempre se dá bem! A cena do Diabolik traçando a gostosa e inseparável Eva na cama giratória em cima de uma pilha de notas de dinheiro é perfeita, com todo seu exagero psicodélico! Se o Tio Patinhas fosse um pato quaquilionário tarado e pervertido, seria assim a sua rotina!

Existem outras cenas memoráveis: nosso anti-herói lança gás hilariante típico do Coringa durante o pronunciamento do governo sobre os roubos fantásticos, explode os prédios do Ministério da Fazenda, destruindo os registros do Imposto de Renda (!!!) e usa a miraculosa pílula para se fingir de morto e escapar mais uma vez! A cena mais inesquecível desse filmaço do diretor italiano, contudo, é a festa no porão das drogas dos traficantes, uma verdadeira orgia psicodélica! Ao som da música lisérgica de Ennio Morricone, os hippies viciados com maquiagens e figurinos tão variados quanto estranhos dançam, performam e passam baseados enormes em meio a xilofones colossais, cenários de plástico e mulheres cobertas de flores e garrafas, tudo ainda mais viajante e esfumaçado graças às câmeras e lentes de Mario Bava!

Em suma, os figurinos exóticos, os cenários extravagantes, os carrões do Diabolik e da Eva, a abertura psicodélica típica da série do James Bond, os tiroteios e perseguições, a correria e o clima cartunesco tornam o filme imperdível. Nessa pérola de orçamento gigantesco para os padrões a que o mestre do horror e do "giallo" estava acostumado (a produção é do Dino DeLaurentis!), tudo grita quadrinhos e remete aos insanos anos sessenta. Se o seriado do homem morcego fosse invenção italiana, Mario Bava seria o cara para dirigi-lo! O exagero é tamanho que o vilão arqui-inimigo de Diabolik parece ter saído direto dos filmes do 007! E como se não bastasse, o nêmesis emprega a armadilha saída do seriado inesquecível do Batman, o velho truque de aprisionar o protagonista num banho de ouro! Santa cobiça, Batman! Será que nosso anti-herói conseguirá escapar de mais essa enrascada dourada? Não percam o eletrizante e psicodélico próximo episódio de Diabolik! Nesse mesmo bat-horário! Nesse mesmo bat-canal!

Bill Murray, o Palhaço do Crime, aprovaria!

 Trailer de "Danger: Diabolik" (1968, Mario Bava)

2 comentários:

  1. Exumador um indicação que vc provavelmente conhece mas que vale uma olhada e o filme da Modesty Blaise (1967), de Joseph Losey !!!!

    Cara muito legal...

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    1. Yeah, Baby, Yeah!!!

      Modesty Blaise é muito shaggadelic!!

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