sábado, 2 de outubro de 2010

Alô criançada, o circo chegou (tenham medo)!

O responsável pela produção desenterrada de hoje tinha dirigido em 1931 o clássico "Drácula", estrelado pelo ícone Bela Lugosi e até hoje referência principal daquele sujeito aterrorizante de grandes caninos afiados e capa comprida (por gentileza, caríssimos, nem ousem mencionar as andróginas criaturas chupadoras de sangue que brilham em plena luz do sol em certas trilogias dos nossos loucos dias atuais). No ano seguinte (1932), Todd Browning, cuja infância se passou em um circo itinerante, resolveu dirigir a polêmica obra sepultadora de sua intenção de vôos mais altos em Hollywood, ainda que tenha sido distribuída pelos estúdios da MGM: "Freaks" (ou "Monstros"), realizada com integrantes reais dos espetáculos circenses de aberrações de antigamente.
Naquela época, há quase oitenta anos atrás, o circo era um ambiente mágico, repleto de emoções fortes (algumas, ora bolas, até ultrajantes e polêmicas). Acredito piamente que a maioria da molecada de hoje em dia jamais tenha sequer chegado perto de um picadeiro; no máximo viram pelo computador ou pela televisão o espetáculo dos palhaços, anões, trapezistas, domadores de leões e afins que tanto divertiram crianças em outros tempos menos chatos.
Bem antes dessa praga do politicamente correto invadir o mundo (com o risco de vermos enterrados num futuro próximo o bom humor e a cultura das diferenças entre as gentes), "Freaks" surge para nos impressionar com pessoas deformadas, sim, e, para ser honesto, adorei o filme, com polêmica e tudo. Ele consegue humanizar aqueles artistas reais (e pessoas como eles nunca mais foram vistas nos filmes após essa onda hipócrita e certinha de esconder o feio e o diferente embaixo do tapete) e que obviamente são diferentes fisicamente (e quem é perfeito, por acaso?). Somos apresentados (vejam num pequeno trecho do filme logo abaixo) por exemplo às irmãs microcéfalas, a uma hermafrodita, a um sujeito que só existe concretamente da cintura para cima, a anões de todos os tipos, às irmãs siamesas e ao "Torso Humano" (ele não tem braços e pernas e é impressionante a cena dele acendendo um cigarro!).
A trama é bem simples: uma trapezista gananciosa resolve, com a ajuda do fortão halterofilista, dar o golpe em um anãozinho do show ao descobrir que ele será herdeiro de uma fortuna. Porém, quando os amigos aberrantes do pouca sombra descobrem as reais intenções da moça, a vingança desce sobre ela na forma de... penas (só assistindo...)!
Clássico cult do grotesco bastante incompreendido, recomendado para as crianças de ontem que não tinham medo de palhaço, mas de portadores de necessidades especiais vingativos e justiceiros!


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